As Colunas da Verdade


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Senhor Jesus disse que ele era “o caminho, a verdade e a vida”. (João 14:6) Não há dúvida que, no sentido absoluto, Cristo é a Verdade que buscamos. É a ele que devemos encaminhar as pessoas, não a homens ou organizações religiosas. Apenas por meio de Jesus alguém pode chegar a conhecer Deus, o Pai. Nosso Senhor deixou bem claro nesse mesmo versículo: “Ninguém vem ao Pai, senão por mim.” Se quisermos conhecer o Deus Todo-Poderoso Jeová, e sermos conhecidos por Ele (2 Tim. 2:19), precisamos estar unidos a Cristo.

Porém, a Santa Palavra também nos admoesta a nos apegarmos às “tradições”: “Sendo assim, irmãos, permanecei firmes e conservai as tradições que vos foram ensinadas, tanto de viva voz, quanto por meio das nossas cartas.” (2 Tes. 2:15) O ensino verdadeiro, puro e imaculado de Jesus e dos apóstolos inspirados, devia ser preservado. O erro devia ser, e foi, combatido: 

  • “Rogo-vos, queridos irmãos, que tomem muito cuidado com aqueles que causam divisões e levantam obstáculos à doutrina que aprendestes. Afastai-vos deles!”(Rom. 16:17) 
  • “Se alguém desobedecer às nossas orientações, expressas nesta carta, observai-o atentamente e não tenhais contato com ele, para que o mesmo se sinta envergonhado.” (2 Tes. 3:14) 
  • “Portanto, aquele que rejeita estas orientações não está rejeitando o homem, mas a Deus, que vos outorga o seu Espírito Santo.” (1 Tes. 4:8)

No entanto, aquelas doutrinas que eram claras no primeiro século foram, com o tempo, sendo corrompidas. Jesus disse que isso aconteceria: “O Reino dos céus é semelhante ao homem que semeia boa semente no seu campo; mas, dormindo os homens, veio o seu inimigo, e semeou o joio no meio do trigo, e retirou-se. E, quando a erva cresceu e frutificou, apareceu também o joio.” (Mat. 13:24-26) Com o tempo também, cristãos sinceros se esforçaram para resgatar essas doutrinas corretas e, em certa medida, tiveram sucesso. Porém, acreditando serem de algum modo “guiados por Deus”, quer como indivíduos ou em grupo, ou considerados assim posteriormente por seus seguidores, essas pessoas e grupos invariavelmente introduziram erros em suas interpretações, junto com as “sãs doutrinas” resgatadas por elas. Assim, ao aplicarem os conselhos acima ao inteiro corpo doutrinal de suas crenças, que contém interpretações erradas, tais grupos acabaram causando danos àquilo que mais queriam defender, isto é, à verdade. Causam danos pois expulsam de seu meio, ou tentam calar, aqueles com opiniões diferentes. Em alguns casos, essas mesmíssimas opiniões diferentes é que eram a verdade do ponto de vista bíblico. (Para uma explicação mais detalhada sobre como verdades são, na minha opinião, entendidas hoje em dia, queira ler o artigo Como verdades são descobertas em nossos dias)

Como, então, podemos defender a verdade, sem, ao mesmo tempo, causar algum dano colateral? Não podemos simplesmente aceitar toda e qualquer explicação, sobre todo e qualquer ponto doutrinal, como verdadeira. Isso, além de ser em si mesmo uma contradição, equivale na prática ao ecumenismo, algo que a Bíblia deixa claro que não é aceitável, como já vimos nos textos acima. Uma solução é estabelecer um conjunto mínimo de verdades claras e fundamentais, sem as quais a plena comunhão cristã não seria possível. Usei aqui a palavra “plena” pois não gostaríamos, de modo algum, julgar um cristão que não compartilhe desse mesmo ponto de vista. Apenas Deus pode julgar os corações, e entregamos em Suas mãos todo julgamento. Não obstante, não podemos ignorar nossas mais firmes convicções, e precisamos agir concordemente.

Como definir, então, essas verdades básicas? Onde traçar a linha demarcatória? Essa é outra questão difícil e, em até certo grau, arbitrária, reconhecemos. Por isso o que diremos a seguir oferecemos como sugestão. Sabemos que a congregação é a “coluna e fundamento da verdade”. (1 Tim. 3:15) Cremos que podemos agregar os ensinos fundamentais no que podemos chamar de As Colunas da Verdade. Essas colunas sustentariam uma miríade de outras verdades. Sem elas, essas outras verdades importantes e interligadas cairiam por terra.

A primeira coluna: Não existe uma Trindade

“Ouve, ó Israel: Yahweh (Jeová), o nosso SENHOR, é o único Deus!” (Deu. 6:4, KJA) A crença de que Deus, o Pai, é a fonte da vida, é o ETERNO, isto é, o único que nunca teve  princípio, é, na minha opinião, uma das mais importantes colunas da verdade. Creio que o inteiro testemunho bíblico aponta para esse entendimento, e o próprio Senhor Jesus se referiu a Jeová como seu Deus e Pai. (João 20:17) Esse entendimento muda toda a dinâmica do cristão, pois ele passa a ver Jeová como realmente seu Pai, aquele por meio de quem temos vida e luz. O cristão então entende que Jesus é realmente o caminho para essa entidade superior e suprema. Entende que o Espírito Santo é uma força que emana de Deus e do Filho, e que habita em nós, moldando nosso caráter e atuando providencialmente em nossa vida. (Para uma consideração mais detalhada sobre o assunto da Trindade, queira ler o informativo bíblico Fim dos Tempos n.º 4, A Trindade.)

A segunda coluna: A alma não é imortal

O entendimento de que a alma morre é um ensinamento claramente bíblico: “Eis que todas as almas são minhas; como o é a alma do pai, assim também a alma do filho é minha: a alma que pecar, essa morrerá.” (Eze. 18:4) A punição de Adão foi a morte, não a existência eterna em algum lugar de tormento: “Com o suor do teu rosto comerás o teu pão, até que voltes ao solo, pois da terra foste formado; porque tu és pó e ao pó da terra retornarás!” (Gên. 3:19) Entender que a alma não é inerentemente imortal, e que a imortalidade é algo concedido aos cristãos vencedores, é fundamental para que outros erros doutrinais sejam automaticamente desfeitos. Por exemplo

A terceira coluna: O inferno não existe

A crença num lugar de tormento está intimamente ligada à crença (errônea) de que a alma é imortal. Se a alma é imortal, as pessoas más continuam existindo para sempre depois de morrerem na carne. Se não podem ir para o céu, então, certamente, argumentam seus defensores, deve haver um lugar de tormento para abrigar a tais. Esse raciocínio, fundamentado numa interpretação literal de certas passagens bíblicas, como a do mendigo Lázaro (Lucas 16:19-31), transforma nosso amoroso Deus Jeová no maior carrasco de toda a História. Que Deus amoroso é esse que torturaria alguém por toda a eternidade? Tal doutrina demoníaca afasta muitos de Deus, e mantém outros tantos “na linha” por puro medo de sofrerem as consequências. Isso não é, nem pode ser, parte do  cristianismo original. Para um maior entendimento sobre o que acontece após a morte e sobre a origem da doutrina do inferno, queira ler as publicações:

A quarta coluna: A esperança celestial

Muitos grupos que conseguiram entender as três verdades bíblicas acima infelizmente rejeitaram, total ou em parte, a verdade fundamental de que a esperança do cristão é apenas uma, e é celestial: “Há um só corpo e um só Espírito, assim como a esperança para a qual vocês foram chamados é uma só.” (Efé. 4:4) Esse é o caso dos Cristadelfianos e da Igreja de Deus 7º Dia, entre outros grupos da atualidade, que dizem que nenhum cristão irá para o céu. Entendem que Cristo voltará fisicamente para a Terra e viverá aqui na Terra com os cristãos para sempre. Já as Testemunhas de Jeová dividem os cristãos em dois grupos, um do céu (144 mil) e outro da Terra (Grande Multidão), mas a Bíblia em lugar algum ensina isso. A esperança dos cristãos é claramente única: celestial. Isso não quer dizer que não haja esperança para o mundo; o mundo da humanidade, segundo entendemos, terá uma oportunidade de viver para sempre aqui na Terra. Mas os cristãos vencedores irão para o céu: “Na casa de meu Pai há muitos aposentos; se não fosse assim, eu lhes teria dito. Vou preparar-lhes lugar. E se eu for e lhes preparar lugar, voltarei e os levarei para mim, para que vocês estejam onde eu estiver.” (João 14:2, 3) Sem essa quarta coluna não é possível entender o pleno alcance do prêmio da natureza divina, que nos é oferecido. Sem essa coluna da verdade, muitos outros textos da Bíblia são anulados, ou grandemente distorcidos, como os que dizem que os 144 mil estão com o Cordeiro no Monte Sião, e que esses foram comprados da Terra, etc. A esperança celestial tem sido corretamente entendida desde o início, pelos “Pais da Igreja”, como sendo a esperança do cristão, e seria um grave erro doutrinário aceitar qualquer ensinamento em contrário. (Gál. 1:8)

Entendimentos secundários

Apesar de nos apegarmos a algumas doutrinas fundamentais, cremos que cada indivíduo deve ter a liberdade de buscar sua própria compreensão em assuntos secundários, sem porém, querer impor a outros suas conclusões. Quando possível, pode haver uma troca respeitosa de informações sobre pontos de vista, pesquisas, etc. Mas temos que ter muito cuidado, pois é comum nos deixar levar pelo sentimento de que estamos certos e, o outro, errado. Pode até ser esse o caso, mas a mera imposição de ideias, mesmo que certas, pode causar uma fadiga desnecessária.

Confiamos no poder convencedor da verdade. Também confiamos que há “um tempo para tudo”, e mesmo no assunto de entendimento de doutrinas talvez tenhamos que ser pacientes nesse sentido, para o benefício maior e duradouro de todos. Sempre haverá um canal para defendermos nossa  compreensão de algum assunto. Temos apenas que discernir qual canal é esse, e quando seria o melhor tempo para fazer isso.

Temos também que saber respeitar a crença coletiva do grupo com o qual estamos associados. Se o grupo for mais flexível, talvez possamos exercer nossa liberdade cristã para expormos com mais liberalidade nosso pensamento nas questões secundárias. Ou, se estamos visitando outro grupo cristão com verdades fundamentais, seria respeitoso de nossa parte não insistir em nosso próprio ponto de vista, quando há discordâncias. Mesmo quando há a oportunidade de expormos um ponto de vista, isso deve ser feito segundo o conselho de 1 Pedro 3:15: “Mas santifiquem o Cristo como Senhor no seu coração, sempre prontos para fazer uma defesa perante todo aquele que lhes exigir uma razão para a esperança que vocês têm, fazendo isso, porém, com brandura e profundo respeito.”

Uma abordagem interessante

Cremos ser proveitoso, quando há mais de uma explicação plausível para determinado assunto, apresentar ambas as explicações, e deixar que cada um use sua consciência cristã para escolher, com pleno convencimento, qual delas é a mais correta, ou mesmo uma terceira explicação ainda não apresentada. Também não vemos problema em um dirigente/preletor expor qual das explicações lhe soa mais razoável, etc., mas sem ser dogmático a respeito. Um exemplo disso seria com relação aos 144 mil. Seria um número literal, ou simbólico? Há bons argumentos para ambos os lados da questão. Visto que não somos inspirados, nem guiados por Deus de modo sobrenatural, por que deveríamos “bater o martelo” e insistir que apenas uma das explicações (a nossa) é a correta? Não estaríamos correndo o risco de causar o dano de cerceamento da verdade descrito mais acima? Devemos pensar nisso com carinho. Muito mais proveitoso seria um estudo aprofundado das diferentes explicações para determinado assunto e como cada uma delas pode nos afetar pessoalmente. Em alguns casos, a busca pelo saber, pelo entendimento, isto é, o processo em si, é tão interessante quanto as possíveis respostas obtidas. Pois é somente com uma mentalidade aberta, receptiva ao contraditório, que a “verdadeira verdade”, por assim dizer, pode aos poucos e de modo completamente natural, brilhar por si mesma em nossa mente e coração, quando somos convencidos por ela.

O amor é o principal fator unificador

Embora as doutrinas sejam um aspecto importante do cristianismo, temos que nos lembrar que, derradeiramente, o que nos une um ao outro é o amor. A verdade não pode ser reduzida a um conjunto intelectual de doutrinas. A verdade é para ser vivida e sentida, e a Verdade absoluta é Cristo. (João 14:6) De nada adianta termos “verdades” doutrinais, se não aceitamos viver como Cristo nos indicou. Visto por esse ângulo, o verdadeiro cristianismo é uma fraternidade de pessoas que amam a Deus, a Cristo e ao próximo. Que possamos continuar no maravilhoso Corpo de Cristo, ao passo que aguardamos o momento em que toda a verdade nos será revelada em todas as suas facetas, como um diamante refulgente sob o Sol.

Veja também: O esboço da verdade

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