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Uma observância preciosa
“Fazei isto em memória de mim.” (Lucas 22:19)
— Ray Charlton
A época do Memorial é um momento sóbrio em que nos lembramos do grande sacrifício de nosso Senhor por nós e por toda a humanidade. Não nos lembramos apenas das agonias das últimas horas de sua vida, culminando em sua morte na cruz, mas também de toda a sua vida e ministério. É também um tempo para expressarmos louvor e profundo apreço por tudo o que Cristo fez por nós.
Embora nem todos concordem, em geral, considera-se que o primeiro Memorial foi a última refeição da Páscoa que o Senhor compartilhou com seus discípulos. A Páscoa era o momento de se lembrar da libertação milagrosa da nação de Israel da terra do Egito, após anos de escravidão, e se lembrar também de como os primogênitos de Israel foram libertados da condenação à morte que afligiu a terra do Egito.
Quando tudo estava pronto no cenáculo, ou quarto superior, nosso Senhor estendeu as boas-vindas a seus discípulos: “Desejei muito comer convosco esta páscoa, antes que padeça.” (Lucas 22:15) Jesus sabia que seu momento final de sofrimento e morte estava próximo. Apesar de ter entendido que agonia e desespero estavam por vir, ele também sabia que essa era a vontade de seu Pai. Estava disposto a cumprir até mesmo esse aspecto da vontade de Deus.
Nós, também, devemos considerar esta época do Memorial com um sincero desejo de estarmos juntos com os irmãos para refletir sobre o grande sacrifício de nosso Senhor e para renovar nosso compromisso com nosso Pai Celestial. “Fazei isto em memória de mim” foi mais um pedido do que um mandamento de nosso Senhor. Não houve ameaça de represálias caso não pudéssemos comparecer ao Memorial, apenas um apelo sincero: “Fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim.” (1 Coríntios 11:25)
O Memorial deve ser então um momento de refrigério e comunhão à medida que participamos dos benefícios da morte de Jesus e de sua ressurreição para a vida: “Porventura o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo?” (1 Coríntios 10:16)
Naquela primeira noite, o Memorial trazia um fim à lei cerimonial da Páscoa, visto que essa era apenas uma sombra das coisas que estavam por vir. “Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós.” (1 Coríntios 5:7) Após o sacrifício de nosso Senhor, não havia mais a necessidade de seus seguidores celebrarem a Páscoa, uma vez que Cristo agora havia cumprido tudo o que ela representava.
O Significado dos emblemas
Lembremo-nos das circunstâncias relacionadas com os emblemas do Memorial, o pão sem fermento e o cálice. Jesus declarou que esses representavam seu corpo e o sangue derramado. Ele deu graças e disse: “Tomai, comei; isto é o meu corpo.” O significado evidente de suas palavras foi que o pão simbolizava ou representava sua carne. O pão não era realmente seu corpo, pois esse ainda não havia sido sacrificado.
Anteriormente, Jesus havia dito: “Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo.” (João 6:33) “Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede.” (João 6:35) “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo.”(João 6:51)
A fim de apreciarmos nossa participação, é necessário entendermos o que significa o pão. De acordo com a explicação de nosso Senhor sobre o assunto, foi a sua carne que ele sacrificou por nós. Não era sua existência pré-humana como um ser espiritual que foi sacrificado, apesar de ter tido de abrir mão disso para receber a natureza humana. Jesus era um ser humano perfeito, santo, inocente, imaculado e separado dos pecadores sem qualquer contaminação de Adão, permitindo assim que ele se tornasse o redentor da raça de Adão, “um preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo”. (1 Timóteo 2:3-6)
Foi a natureza humana pura, imaculada de nosso Senhor Jesus, que foi entregue em favor dos pecadores. Sua vida humana perfeita foi dada para redimir toda a raça humana da condenação à morte, e dar-lhes uma oportunidade de ganhar a vida eterna e, consequentemente, retornarem à perfeição humana.
No entanto, para que qualquer da raça de Adão se beneficiasse do sacrifício de Jesus, era necessário ele ser levantado do túmulo, receber “todo o poder no céu e na terra” (Mateus 28:18), subir para o Pai, depositar o mérito de sua morte sacrificial sobre o propiciatório (assento de misericórdia), e ser aceito por nosso Pai Celestial.
Esse poder no céu e na terra entrará em vigor durante a Era Milenar quando Jesus será conhecido no mundo como “Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz”. (Isaías 9:6) Então, “do aumento deste principado e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o firmar e o fortificar com juízo e com justiça, desde agora e para sempre”. (Isaías 9:7) Durante seu reinado com a Igreja qual mediador entre Deus e os homens, Cristo restabelecerá a harmonia com Deus e ajudará o homem a voltar à perfeição. O pão representa o grande dom do resgate — a oportunidade de obter vida eterna — que nosso Senhor obteve para todos os que já viveram.
Seu sangue foi derramado até a morte em nosso benefício. Para a Igreja e toda a humanidade ser resgatada, era necessário que o sangue de Jesus fosse derramado. Foi esse sacrifício, derramado durante todo o período de seu ministério e culminando na cruz que permitiu que Jesus fosse ressuscitado como um ser espiritual glorioso e ter em seu poder a capacidade de aplicar os benefícios vivificantes do seu sacrifício em prol da Igreja e de toda a raça humana. “O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante.” (1 Coríntios 15:45)
O significado mais profundo dos emblemas
Durante nossa Era Evangélica, a Igreja é justificada pela fé, antes da justificação do mundo pela obediência durante a Era Milenar. Aqueles que agora apreciam o grandioso sacrifício feito por Cristo recebem a oportunidade de apresentarem-se como um sacrifício vivo e de serem contados com o Senhor Jesus em seu sacrifício, como membros do seu Corpo.
Esse significado mais profundo do Memorial não foi mencionado diretamente por Jesus. Ele seria revelado a seus seguidores depois do Pentecostes: “Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir.” (João 16:12-13)
Esse espírito de verdade era o poder e a influência do Pai concedidos por meio do Espírito Santo. O apóstolo Paulo compreendeu claramente esse nível mais alto de significado dos emblemas quando escreveu à Igreja consagrada. “Porventura o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão.” (1 Coríntios 10:16, 17)
É essencial reconhecermos que a nossa justificação é feita por meio do sacrifício de nosso Senhor. É essencial reconhecermos que a Igreja é, do ponto de vista Divino, um corpo composto de muitos membros, do qual Jesus é a Cabeça. (1 Coríntios 12:12-14) É essencial que cada membro se torne uma cópia do Senhor Jesus e siga os passos de Seu sacrifício. Fazemos isso dando nossa vida pelos nossos irmãos como Jesus deu sua vida — diretamente por seus irmãos judeus, mas, na verdade, por todo o mundo de acordo com o propósito do Pai. Podemos ver a beleza e a força da afirmação de Paulo de que os filhos do Senhor juntos são participantes do mesmo pão. Mas é o sangue de Jesus, a virtude de seu sacrifício que os redime.
Nosso Senhor claramente declara que o cálice, o fruto da videira, representa o sangue — a vida derramada, entregue, concedida — sacrificada. Ele nos diz que a vida derramada era para a remissão dos pecados. Todos os que desejam pertencer a ele têm de beber do sangue, aceitar seu sacrifício e apropriar-se do mesmo pela fé. Não basta alguém alegar que ter fé em um grande instrutor e obedecer às instruções dele no fim das contas será a mesma coisa e trará a vida eterna. Não há nenhuma maneira de alcançar a vida eterna que não seja por meio do sangue derramado uma vez como preço de Resgate pelo mundo inteiro. “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.” (Atos 4:12)
Da mesma forma, não há outra maneira pela qual possamos alcançar a nova natureza a não ser por participar do mesmo pão — seu resgate — e por aceitar o convite do Senhor para beber de seu cálice — a vida sacrificial — e, portanto, ser sepultado com ele pelo batismo na sua morte, para então participar de sua glória, honra e imortalidade na ressurreição. (Romanos 6:3-5; 2:7)
Lembrando de Jesus
Lembremo-nos de que esse privilégio de participarmos no Memorial não deve ser encarado levianamente. “Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha. Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem [literalmente “provar” ou “testar”] a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice.” (1 Coríntios 11:26-28)
Isso também é considerado por Paulo: “Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós. Por isso façamos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade.” (1 Coríntios 5:7-8)
Aguardemos com expectativa a promessa de nosso Senhor: “E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da videira, até aquele dia em que o beba novo convosco no reino de meu Pai.” (Mateus 26:29)
O Arauto de abril/junho de 2014 (em inglês)