“Porque assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem. Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo.” — 1 Coríntios 15:21-23
A humanidade tem o grande desejo de que a morte não seja o fim de toda a existência. Mas existe alguma base racional para se acreditar na vida após a morte? Existem tantas religiões e, portanto, tantas filosofias sobre a condição dos mortos que é difícil discernir a verdade sobre isso. Como estudantes da Bíblia, devemos buscar apenas a Palavra de Deus para a entender essa doutrina mais claramente.
Como a Bíblia descreve a condição dos mortos?
A vida humana é composta pelo corpo e pela mente. O corpo é composto pelos elementos inanimados da Terra, ao passo que a mente consciente é uma composição, ou conjunto, de múltiplas experiências — a capacidade de raciocinar, aprender, comunicar, criar, adorar, apreciar a beleza e exercer livre-arbítrio. Essa união do corpo com a mente é o que forma o indivíduo, e a morte, portanto, é o estado em que o indivíduo deixa de existir.
Por inspiração, o Rei Davi confirmou esse conceito: “Sai- lhe o espírito, volta para a terra; naquele mesmo dia perecem os seus pensamentos.” (Salmo 146:4) Assim, os mortos não estão conscientes, pois a mente deixa de existir. “Na sepultura, para onde tu vais, não há obra nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma.” (Eclesiastes 9:10) A morte, portanto, é exatamente o oposto da vida.
Como Jesus descreveu a morte?
Quando seu amigo Lázaro morreu, Jesus descreveu a morte como o sono: “Nosso amigo Lázaro adormeceu, mas vou até lá para acordá-lo.” Seus discípulos responderam: “Senhor, se ele dorme, vai melhorar.” Eles achavam que seria um grande erro despertar um homem doente. Vendo que seus discípulos haviam entendido mal, “disse-lhes claramente: Lázaro está morto”. Jesus usou a figurativa ilustração do sono para enfatizar dois pontos importantes. (1) Aqueles que estão adormecidos não estão conscientes do que está acontecendo no mundo ao redor. “Os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa alguma.” (Eclesiastes 9: 5, NVI) (2) Os mortos estão figurativamente adormecidos em seus túmulos aguardando o momento de serem despertados — a reanimação da vida, tanto do corpo, quanto da mente.
A ressurreição futura dos mortos não era uma novidade para a família de Lázaro, pois eles acreditavam nas promessas do Antigo Testamento que apresentam essa maravilhosa esperança. Séculos antes de Lázaro, por exemplo, o profeta Jó perguntou: “Quando um homem morre, acaso tornará a viver?” (Jó 14:14, NVI) Jó sabia que a morte era a penalidade pelo pecado, e, visto que toda a humanidade é pecadora, todos estavam morrendo. O que Jó queria saber era se os mortos seriam restaurados à vida — “acaso tornará a viver?” A esperança que Jó tinha mostra que ele havia encontrado a resposta para essa pergunta. Ele disse: “Esperarei [na morte] por dias melhores, até que seja liberado das minhas lutas e do meu árduo labor. No dia da libertação me chamarás e eu te responderei.” — Jó 14:14, 15, KJA
“A ressurreição no último dia”
A morte de Lázaro não ocorreu por falta de fé nessa promessa expressa por Jó, nem falta de lealdade a Jesus. Lázaro acreditava em Jesus, mas ele morreu e permaneceu na sepultura por quatro dias. Em relação a esse fato, quando Jesus foi consolar a família de Lázaro, note que ele NÃO disse: “Não chore, pois seu ente querido não está realmente morto, pois agora está no céu.” Em vez disso, Jesus falou claramente a seus discípulos: “Lázaro está morto”. A triste realidade de que Lázaro estava morto havia quatro dias era uma prova de que ele não havia ido para o céu.
Quando Jesus disse: “Seu irmão ressuscitará”, Marta respondeu: “Eu sei que ressuscitará na ressurreição no último dia”. Ela sabia, por meio de profetas do Antigo Testamento como Jó, que os mortos estavam em seus túmulos esperando a ressurreição no último dia, quando Jesus ressuscitará os mortos. Jesus não negou a veracidade do que Marta disse, mas confirmou sua fé, dizendo: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá…” (João 11:25, 26) O apóstolo Paulo também confirmou isso: “Porque o próprio Senhor descerá do céu [no último dia]… e os mortos em Cristo ressuscitarão…” — 1 Tessalonicenses 4:16
Mas a alma não continua vivendo?
A crença comum da maioria das religiões mundiais é que as pessoas possuem almas e, na morte, sua consciência, na forma dessa alma, se afasta do corpo para continuar em um paraíso ou em um lugar de punição. Mas para alguns pode ser uma surpresa o fato de que a ideia de uma alma imortal não é encontrada em parte alguma das Escrituras. Na verdade, a Bíblia afirma claramente que, antes de Jesus ser recompensado com a natureza divina, somente Deus tinha imortalidade. — 1 Timóteo 6:16
O ensino filosófico de uma alma imortal que sobrevive após a morte foi introduzido nos tempos de Ninrode, após o Dilúvio dos dias de Noé. Esse ensino continuou de diferentes formas e em várias religiões pagãs. Os antigos egípcios praticavam elaboradas cerimônias para preparar os faraós para a vida após a morte. Mais tarde, filósofos gregos aprenderam dos egípcios esse conceito e o adotou. Platão ensinou que cada homem continha uma parte da divindade e, por isso, jamais poderia morrer. A popularidade dessa filosofia se espalhou e, por volta de 200 d.C., acabou se misturando com a doutrina cristã da ressurreição. Naquele tempo, Orígenes, um influente teólogo da igreja, foi muito influenciado pela filosofia de Platão. Ele escreveu: “A alma, tendo uma substância e vida própria, deve, após sua partida do mundo, ser recompensada de acordo com seus desejos, destinando-se a obter uma herança de vida eterna e da bem- aventurança… ou ser entregue ao fogo eterno e aos castigos…” A visão de Orígenes causou grande controvérsia na igreja primitiva, principalmente porque não se baseava nas Escrituras. Mas era atraente para os convertidos gentios que tinham fortes laços pagãos. (Os Pais Antenicenos, Vol. 4, 1995, pág. 240.)
Agostinho, outro influente teólogo cristão e admirador da filosofia platônica, continuou a influenciar profundamente o pensamento cristão. Richard Tarnas, ao escrever “A Paixão da Mente Ocidental” (1991, pág. 103) aponta para essa influência: “Foi a formulação do platonismo cristão de Agostinho que permeou praticamente todo o pensamento cristão medieval no Ocidente. O espírito grego foi tão bem aceito e integrado ao cristianismo, que Sócrates e Platão eram frequentemente considerados como sendo santos pré- cristãos divinamente inspirados…” Como Platão, Agostinho propôs que Deus soprou um pouco de Sua divindade em Adão e que essa entidade jamais morreria.
Embora muitos dos líderes respeitados da igreja tenham rejeitado esse ensino como um erro, a visão de Agostinho prevaleceu, e o erro acabou se estabelecendo como uma doutrina fundamental do século 6 o ao século 19, quando os cristãos finalmente conseguiram estudar a Bíblia por si mesmos. Eles descobriram que a doutrina de uma alma imortal não era apoiada pelas Escrituras.
A obra The International Standard Bible Encyclopedia (Enciclopédia Bíblica Padrão Internacional) [1960, Vol. 2, pág. 812] afirma: “Sempre somos influenciados em maior ou menor grau pela ideia grega e platônica de que o corpo morre, mas a alma é imortal. Tal ideia é totalmente contrária ao conceito dos israelitas e não é encontrada em parte alguma do Antigo Testamento.” Confirmando isso, a The Jewish Encyclopedia (Enciclopédia Judaica) [1941, Vol.VI págs. 564, 566] afirma: “A crença de que a alma continua existindo depois da decomposição do corpo… não é expressamente ensinada em lugar algum nas Escrituras Sagradas… A crença na imortalidade da alma chegou até os judeus a partir do contato com o pensamento grego e principalmente por meio da filosofia de Platão…”
A definição bíblica de alma
A palavra hebraica traduzida por “alma” é nephesh, e significa uma criatura que respira. O Dicionário Vine — O Significado Exegético e Expositivo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento (1985, págs. 34, 35) define nephesh como “a essência da vida, o ato de respirar, tomar fôlego”. As palavras hebraicas nephesh caiyah significam alma vivente e se aplicam não apenas ao homem, mas também a todos os seres vivos criados por Deus, isto é, “a todos os animais selvagens e a todas as aves do céu e a tudo que se arrasta sobre a terra, em que há vida”. (Gênesis 1:30) Note a referência à vida — “hebraico: uma alma vivente.” Assim, todas as diferenças entre as almas inferiores e superiores não são porque os animais inferiores têm uma respiração (fôlego) ou espírito de vida diferentes, pois “todos eles têm um único fôlego” e todos são considerados por Deus como almas — criaturas vivas. “Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais… como morre um, assim morre o outro; e todos têm o mesmo fôlego, e a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma… todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó.” — Eclesiastes 3:19-20
Quando o corpo de Adão foi formado com os elementos da Terra, ele tinha olhos, ouvidos e cérebro, mas até então, nenhuma habilidade para ver, ouvir ou pensar. Então, “Jeová Deus… soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem se tornou uma alma vivente.” (Gênesis 2:7) A palavra espírito, no Antigo Testamento, vem da palavra hebraica ruach — respiração, ou fôlego. Por isso, temos a expressão “fôlego da vida”, porque a centelha da vida, uma vez iniciada, é sustentada pela respiração. Quando paramos definitivamente de respirar, o espírito de vida acaba.
Observe que a Bíblia não diz que Deus soprou uma alma nas narinas de Adão — uma parte de Sua divindade. O resultado do fôlego de vida que foi soprado em Adão foi que ele “se tornou uma alma vivente”. O corpo sem vida de Adão estava agora animado com a percepção dos sentidos — ele era agora um ser consciente capaz de ouvir, ver, sentir, provar e cheirar. Muitos invertem essa afirmação bíblica e, em vez de falarem do homem como sendo uma alma, falam dele como tendo uma alma — e isso é uma coisa muito diferente.
“Assim como todos morrem em Adão”
O apóstolo Paulo explicou que “o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte”. (Romanos 5:12, BJ) Quando nossos primeiros pais transgrediram a lei de Deus, conforme advertido, Ele retirou Seu favor deles. Sem o favor de Deus, eles não podiam continuar a viver, e assim a sentença foi imediatamente posta em vigor, e eles começaram a morrer. “Tu és pó e ao pó tornarás.” (Gênesis 3:19, ARA) É a alma — a mente que governa o corpo — que foi responsável pelo pecado, portanto, é a alma que deve receber a punição pelo pecado. Essa punição é claramente especificada como sendo a morte. “O salário do pecado é a morte.” (Romanos 6:23) “A alma que pecar, essa morrerá.” (Ezequiel 18:4) Se Adão tivesse permanecido obediente, ele teria continuado a viver para sempre — ainda que fosse mortal — isto é, poderia morrer caso praticasse a desobediência. Se considerarmos que a alma é imortal — uma condição em que a morte é impossível — então, mesmo Deus não poderia destruí-la. Mas as Escrituras afirmam claramente que Deus é capaz de destruir a alma. (Mateus 10:281) Quando Adão perdeu sua vida, tanto a mente quanto o corpo começaram a morrer — uma morte que levou 928 anos. Assim, pela hereditariedade, todos somos membros de uma raça humana morredoura. Visto que todos os descendentes de Adão, por causa da hereditariedade, compartilham de sua pena de morte, então, todos poderão igualmente escapar das garras da morte quando o Reino de Deus for estabelecido na Terra.
1 Mateus 10:28, VEB: “E não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer na Geena tanto a alma como o corpo.”
“Assim também todos serão vivificados em Cristo”
Embora as Escrituras não apoiem o conceito de que a alma é imortal, existem muitas evidências da esperança de uma ressurreição da morte no devido tempo. “Deus redimirá a minha alma da sepultura [seol — a condição da morte].” (Salmo 49:15) Quando Jesus “derramou a sua alma [na morte]”, ele deu “a sua alma como oferta pelo pecado” e tornou-se nosso resgate da sentença de morte imposta a Adão e sua descendência. (Isaías 53:10, 12) A promessa feita à humanidade, portanto, é de que a alma será redimida do poder da morte.
Sim, Jesus se deu a si mesmo “em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo”. (1 Timóteo 2:6) A declaração de Jesus é clara — a ressurreição, até mesmo dos servos fiéis, só aconteceria na segunda vinda de Cristo, nos últimos dias. Até então, todos figurativamente dormem nos túmulos. Nosso texto temático de 1 Coríntios 15:22-23 apoia isso: “Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo. Mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo, na sua vinda.” Em outras palavras, há uma ordem, uma sequência bem definida para a ressurreição dos mortos. “Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro.” — 1 Tessalonicenses 4:16
Nosso Senhor ampliou ainda mais essa ideia quando disse: “Não vos admireis com isto: vem a hora em que todos os que repousam nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão; os que tiverem feito o bem, para uma ressurreição de vida; os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de julgamento.” (João 5: 28, 29, BJ) A declaração de Jesus, “os que tiverem feito o bem”, refere-se aos crentes cristãos que se mostraram fiéis ao seu pacto de sacrifício. Estes são um pequeno rebanho em comparação com os bilhões que morreram. (Lucas 12:32) O apóstolo Paulo disse que o cristão precisa “se revestir (ou se vestir) de imortalidade” o que indica que a pessoa não a possui naturalmente — não é inerente aos humanos. (Romanos 2:5-7; 1 Coríntios 15:51-55) A imortalidade é prometida apenas aos que agora estão sendo chamados, testados e selecionados para ser coerdeiros com Cristo no Reino de Deus.
A vasta maioria dos mortos faz parte de uma classe que não fez o bem do ponto de vista divino. De acordo com os padrões humanos, muitas dessas pessoas foram moralmente exemplares, mas não seguiram os passos do Mestre e, por isso, o sangue de Cristo ainda não deu a eles uma posição de justiça diante de Deus. No entanto, Deus ama a esses também, e enviou Seu Filho para morrer por eles. Tais pessoas nunca tiveram uma oportunidade genuína para acreditar — para desenvolver fé e obediência.
Bilhões nunca ouviram falar de Jesus, e entre aqueles que ouviram falar dele, há poucos que entenderam claramente o verdadeiro propósito de sua vinda ao mundo. Eles não foram intencionalmente perversos, mas não fizeram o bem no sentido de aceitar Jesus como seu salvador. Esses bilhões serão despertados do sono da morte e receberão uma oportunidade de ‘chegarem ao pleno conhecimento da verdade’. (1 Timóteo 2:4, KJA) A grande verdade que será divulgada a todos — de forma clara e inconfundível – é que a morte de Jesus forneceu um “resgate por todos”. Sim, Jesus morreu “pelos pecados de todo o mundo” e quando ele estabelecer o Reino de seu Pai na Terra, toda pessoa que aceitar essa provisão “achará a vida”. — 1 João 2:2, KJA; Provérbios 8:35
Agora vivemos em uma noite de tristeza — quando é muito difícil acreditar no “único nome pelo qual podemos ser salvos”. É por isso que Jesus disse que seus seguidores andam no caminho “estreito”. Mas chegará o momento em que haverá uma grande “estrada” onde até “os tolos andarão nela e não se perderão”. (Isaías 35: 8, NTLH) Esse tempo será o período de julgamento do mundo — quando enfrentarão a grande decisão que significará a vida eterna ou a morte. (Atos 17:31) Segundo João 5:29, eles sairão da morte para o julgamento. (Não para a “condenação”, conforme vertem algumas Bíblias.) Em grego, a palavra usada nesse versículo é krisis (crise), isto é, um tempo de teste, quando as pessoas, se forem obedientes de coração a Deus, nunca mais morrerão. “E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.” — Apocalipse 21:4.
— Fim dos Tempos n.o 3 (Português)
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