É possível ser cristão e não aceitar TODA a Bíblia como inspirada por Deus?


A própria Bíblia diz que ela é passível de ser alterada:

“Toda palavra de Deus é pura; ele é escudo para os que nele confiam. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda, e sejas achado mentiroso.” (Provérbios 30:5, 6)


“Eu, João, aviso solenemente aos que ouvem as palavras proféticas deste livro: se alguma pessoa acrescentar a elas alguma coisa, Deus acrescentará ao castigo dela as pragas descritas neste livro. E, se alguma pessoa tirar alguma coisa das palavras proféticas deste livro, Deus tirará dela as bênçãos descritas neste livro, isto é, a sua parte da fruta da árvore da vida e também a sua parte da Cidade Santa.” (Apocalipse 22:18, 19) 

Se é assim, será que é possível ser cristão e não aceitar toda a Bíblia?  

Isso vai depender do que a pessoa entende  ser realmente algo inspirado e parte genuína da Bíblia. Sabemos que partes da Bíblia foram de fato alteradas: removidas, acrescentadas ou mesmo mudadas. Isso é uma realidade. Mas também é uma realidade que é possível descobrir onde tais alterações ocorreram. Os eruditos que estudam o assunto de Canonicidade e Variações Textuais dizem que, considerando o volume da obra, o tempo decorrido e os métodos de cópias usados, as alterações são mínimas e, na maior parte das vezes, em  trechos não impactantes. Também, visto que temos um grande volume de manuscritos, é possível, pela comparação entre eles, encontrar os erros. Há também os livros chamados “apócrifos”, que nunca realmente fizeram parte da Bíblia. Esses devem ser rejeitados.

O Cânon da Bíblia

A palavra “Cânon” é derivada semítica do ugarítico “Qanû”; em hebraico, a palavra é “Qâneh” e é empregada no velho Testamento sempre no sentido literal, significando “cana” ou “balança”. Em grego, “Kanôn” é derivada da raiz hebraica. Em português, a palavra “Cânon” é derivada da palavra grega que sofre transformação no latim.

Aplicado à Bíblia, cânon refere-se à lista de escritos reconhecidos pela igreja cristã como sendo inspirados.

A igreja considerou os judeus como os guardiões do Cânon Judaico. Sendo assim, o cânon do Velho Testamento foi aceito conforme mantido pelos judeus. A igreja não pode tornar canônicas as Escrituras, assim como também não poderia estabelecer uma lista de livros como aceitos simplesmente por causa de gosto pessoal. A Igreja não tem domínio sobre o  “Cânon”, ela simplesmente é responsável por guardá-lo. Portanto, o processo de aceitação dos livros foi sendo fixado no decorrer de um longo período de tempo.

O processo de estabelecimento do Cânon da Bíblia:

  • A Apostolicidade

Este foi o principal critério de aceitação dos livros como inspirados: ter sido escrito pelos apóstolos ou por alguém que conviveu com eles.

  • Aceitação e utilização por parte da Igreja

O uso que a igreja fazia dos livros em sua liturgia era evidência da canonicidade de um livro. O motivo era simples: os livros que não eram canônicos a igreja não aceitava como litúrgicos.

  • Coerência Doutrinária

Qualquer livro que ensinasse doutrinas contrárias às dos apóstolos era rejeitado.

  • Inspiração

O livro deveria mostrar que havia sido divinamente inspirado. Esse era o teste final, que servia como demarcador da área de ação e o rumo a ser tomado.

  • Os “antilegomena” (livros disputados)

De acordo com o historiador Eusébio, houve sete livros cuja autenticidade foi questionada por alguns dos pais da igreja, e, por isso, ainda não haviam obtido reconhecimento universal por volta do século 4. Os livros alvos de controvérsia foram Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse.

O fato de esses livros não terem obtido reconhecimento universal o início do século 4 não significa que não haviam tido aceitação por parte das comunidades apostólicas e sub-apostólicas. Ao contrário, esses livros foram citados como inspirados por vários estudiosos primitivos. Tampouco o fato de terem sido questionados, em certa época, por alguns estudiosos, é indício de que sua presença no cânon atual seja menos firme do que a dos demais livros. Ao contrário, o problema básico sobre a aceitação da maioria desses livros não era sua inspiração, ou falta de inspiração, mas a falta de comunicação entre o Oriente e o Ocidente a respeito de sua autoridade divina. A partir do momento em que os fatos se tornaram conhecidos por parte dos pais da igreja, a aceitação final, total, dos 27 livros do Novo Testamento foi imediata.

CONCLUSÃO:

No que diz respeito ao “Cânon” da Bíblia, isto é, os livros verdadeiramente inspirados, é preciso aceitá-los. Alguém que não aceita a Bíblia na inteireza não pode ser um cristão completo, pois:

TODA a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça.” — 2 Timóteo 3:16

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