A consagração relacionada com as condições atuais

A CONSAGRAÇÃO é outro nome para a santificação, e significa colocar-se à parte. A santificação, a consagração, está intimamente relacionada com a justificação, porque, embora haja uma justificação parcial quando se volta do pecado para Deus, não poderia haver uma justificação completa, uma justificação para a vida, até que a pessoa tivesse feito uma consagração completa. Parece, então, que desde o momento em que alguém começa a se voltar para Deus, quando a pessoa se afasta do pecado, e procura conhecer e fazer a vontade de Deus, há um certo grau de consagração, de se colocar à parte para Deus, em contraste com se seguir o mal. Cada passo que ele dá em direção a Deus é um passo rumo à santificação e à justificação.

Olhando para como esse processo é prefigurado no tipo, vemos que um levita ou um sacerdote, ao começar a se aproximar do Tabernáculo, desejando entrar, via de longe o muro branco em torno do Pátio. Com mais ou menos conhecimento do que havia dentro, ele ia se aproximando. Quando chegasse ao portão, veria que o Pátio era um lugar sagrado, e que ninguém de modo algum poderia entrar nesse recinto, a não ser que reconhecesse o sacrifício no altar de bronze que estava lá dentro.

ETAPAS PROGRESSIVAS DE JUSTIFICAÇÃO E SANTIFICAÇÃO

O mesmo se dá com uma pessoa que está em uma condição semi-consagrada — uma condição semi-justificada. Sua primeira grande lição no portão do Pátio é que ele é um pecador, que Deus não aceita pecadores, e que somente os que se aproximam Dele por meio do reconhecimento do grande Sacrifício serão recebidos. Tendo reconhecido o Sacrifício, tendo confiado na morte de Cristo para a justificação do pecado, seu próximo passo seria uma consagração mais profunda e, portanto, uma justificação mais completa. Se ele prosseguir, isso o levaria até a bacia de cobre do Pátio, o que representaria uma lavagem da imundície da carne — o tornar-se cada vez mais limpo na vida, fazendo tudo em seu poder para se libertar do pecado. Isso também é aceitável para Deus.

Mas ele ainda não estaria justificado completamente, nem santificado completamente. Enquanto ele prossegue, desejando ardentemente chegar ainda mais perto de Deus, ele chega à porta do Tabernáculo. Lá ele descobre que só consegue seguir adiante por meio da morte — a morte de sua vontade humana, a entrega de todos os direitos e interesses humanos. Reconhece, ainda, que essa morte deve ser uma morte sacrificial, e que ele precisa ser aceito pelo Sumo Sacerdote, que o Sumo Sacerdote precisa fazer uma compensação por suas imperfeições através da imputação de Seu mérito antes que o Pai Celestial aceite sua plena consagração.

A consagração desse indivíduo ocorre, portanto, antes de sua justificação para a vida. Ele tem que se apresentar em sacrifício antes que Jesus possa aceitá-lo, antes que Jesus possa apresentá-lo ao Pai, para que tal pessoa possa se tornar um de Seus membros. É ser membro do Corpo terrestre de Cristo, para o sofrimento e a morte, e também ser membro do Corpo espiritual, para a vida e para a glória. Quando a consagração da pessoa é aceita por Deus, ela é selada, ou gerada, com o Espírito Santo. E o engendramento (geração) do Espírito Santo é indicada por sua apreciação das coisas profundas de Deus, conforme representado no altar do incenso e na mesa dos pães da proposição; em experiências de esculpimento e polimento, e por oportunidades de servir. Em alguns casos, esses vários passos são tomados quase simultaneamente.

Após a aceitação da parte de Deus, devemos persistir em manter nossa consagração. Precisamos permanecer em Cristo, a fim de sermos participantes do Sacerdócio Real além do véu, herdeiros de Deus, coerdeiros de Jesus Cristo, nosso Senhor. Se, no tempo presente, sofrermos com ele, então também reinaremos com Ele em glória.

OS CONSAGRADOS A PARTIR DE 1881*

Alguns têm se preocupado com quais evidências, se houver, uma pessoa que se consagrou desde 1881 teria de que sua consagração foi aceita por Deus. Diríamos que, de certo modo, isso dependeria de quão recentemente a pessoa se consagrou. Se foi muito recentemente, ele ou ela não teria meios seguros de determinar. Se um ou dois anos se passaram, e a pessoa ainda não tiver recebido nenhuma evidência de que foi gerada pelo Espírito Santo — se ela não tiver recebido maior capacidade de compreender e apreciar a Verdade; se não tiver desenvolvido um amor pela Verdade e um desejo de servi-la; se não tiver encontrado alguma oportunidade para servir à Verdade e ter tido algumas experiências de provação — nesse caso teria razão para duvidar da aceitação Divina de sua consagração.

Mas, nesse caso, estaríamos inclinados a nos perguntar se a consagração foi feita do modo correto. Nosso pensamento seria que, de uma maneira ou de outra, Deus aceita toda consagração, que um coração quebrantado e contrito de modo algum é desprezado. Ele não desprezava aqueles que, na antiguidade, consagravam suas vidas a Ele — os Profetas e os fiéis israelitas de outrora. Eles não foram desprezados nem rejeitados. Eles encontraram oportunidades para o serviço e tiveram o testemunho (Hebreus 11:7) que agradaram a Deus; e receberam uma bênção especial como recompensa por sua obediência e por todos os sacrifícios que haviam feito. Mas isso não significava que foram gerados pelo Espírito Santo.

Temos atualmente todas as razões para acreditar que o número dos Eleitos ainda não está concluído, por causa de muitas coroas terem sido perdidas. Vemos alguns se juntando a nós, dia após dia e semana após semana, que dão provas de que foram aceitos pelo Senhor, que mostram que o Senhor está permitindo que eles deem suas vidas em Seu serviço. Mas sem dúvida chegará o tempo, no futuro próximo, quando o número dos Eleitos estará completo. Daí, apenas haveria vagas se, porventura, alguém caísse. Nesse caso, poderia haver alguns com a atitude de consagração a quem Deus aceitaria para substituir os que abandonaram. Esses seriam gerados pelo Espírito Santo, e encontrariam oportunidades para servir à Verdade e para sofrerem pela causa da Verdade.

As evidências parecem ser que ainda há um grande número de vagas no número dos Eleitos, porque há pessoas que vieram diretamente do mundo e que entram na Verdade Presente e se consagram. Isso parece indicar que não há atualmente um número suficiente de pessoas plenamente consagradas para completar os 144 mil. Se houvesse, essas teriam preferência em relação às não consagradas.

A POSIÇÃO ATUAL DA MAIORIA DOS CRISTÃOS

Pelo visto, em toda a cristandade podemos ver hoje muitos que deram os passos da consagração em maior ou menor grau e com mais ou menos conhecimento. Alguns reconhecem o Redentor e a necessidade de Sua obra de salvação, e o fato de que Ele deu Sua vida como compensação pelo pecado. Alguns foram mais longe e, com mais ou menos conhecimento, “se lavaram na bacia”.

Mas parece que a grande maioria não foi muito longe — que não vêem a importância de se ir mais longe. A maioria dos cristãos professos de hoje não vai mais longe do que levar uma vida de boa moral. Eles não chegaram ao ponto de consagração a Deus, e, portanto, ainda não chegaram ao ponto de justificação para a vida. A maioria talvez tenha chegado à bacia, e desejam se lavar e tornarem-se limpos.

Ao aprenderem a Mensagem do Reino que agora está sendo proclamada — que a consagração completa para a morte é a única condição para ser um seguidor de Jesus — alguns aceitam com alegria tal conhecimento e oferta. Eles alegremente seguem adiante, até a plena consagração e a plena justificação; e, por causa do seu ambiente, e do fato de que a maioria dos professos cristãos nas várias denominações estão atrás deles em termos de realização, eles, em vez de serem vistos como estando à frente dos outros, são vistos como peculiares, ou distintos. A maioria não discerne que essa peculiaridade é exatamente aquilo que Deus requer dos que serão coerdeiros com Cristo — dos que seguirão o caminho de devoção e fidelidade, para serem considerados dignos de reinar com Cristo em Seu glorioso reino.

A GRANDE MULTIDÃO

Uma classe mencionada nas Escrituras como a Grande Multidão, que sairá da grande tribulação e lavará suas vestes e purificá-las-á no sangue do Cordeiro (Apocalipse 7:14), e que acabará por atingir a posição de antitípicos levitas, é digna de consideração. Esses passaram pelos vários estágios da consagração plena e da aceitação divina e do engendramento do Espírito Santo. Eles se tornaram Novas Criaturas em Cristo Jesus e entraram no Santo. Mas por insuficiência de zelo e falta de firmeza, devido ao ambiente desfavorável em Babilônia, esses não estão conseguindo continuar, falhando em compreender que um completo sacrifício de coisas terrenas é a única condição em que podem ganhar as coisas celestiais.

Esses buscam ser seguidores de Cristo e seguidores de Mamom (Riquezas), procurando agradar ao Senhor e agradar ao mundo, tendo um pouco do Espírito do Senhor e um pouco do espírito do mundo e, de modo geral, não estão fazendo progresso, não estão se desnudando das coisas da carne — a raiva, o ódio, a malícia e contenda, a inveja e o falar mal, as obras da carne e do Diabo e, portanto, não estão se cobrindo com os frutos do Espírito — a fé, a fortaleza, o conhecimento, o autocontrole , a paciência, a piedade, a bondade fraternal, a mansidão, a gentileza e o amor.

Deve-se admitir que essas pessoas não tiveram os instrutores certos, e adquiriram concepções erradas — mal-entendidos sobre a Palavra do Senhor. No entanto, não podemos deixar de ter fé que Deus guiará aqueles que realmente são Seus filhos e, através do sofrimento, os levará a assumir uma postura positiva.

Não cremos que devemos entender que as Escrituras ensinam que a Grande Multidão alcançará o mesmo grau de desenvolvimento espiritual do Pequeno Rebanho. É verdade que Deus tem apenas o padrão de perfeição para qualquer de Suas criaturas; mas há muitos que demonstram em suas vidas que, se tudo fosse favorável, seriam muito leais ao Senhor e muito leais à justiça. Somente em virtude de o caminho estreito ser tão íngreme, tão alto e acidentado, que eles não têm coragem de continuar. Eles não mostram o amor e zelo que o Senhor estabeleceu como a marca que identifica os que participarão no Sacerdócio Real.

Acreditamos que o Senhor provavelmente não esperaria mais da classe da Grande Multidão do que Ele esperaria dos anjos — como se Ele dissesse de cada um desses: “Sem dúvida essa pessoa, em condições favoráveis, preferiria ser Meu filho e viver em harmonia comigo, e ela não pensaria em viver em pecado, e até sofreria a morte em vez de negar o Meu nome.” Se tal for o teste da classe da Grande Multidão, talvez haja um milhão de pessoas que demonstraram esse grau de lealdade no passado, durante esta Era do Evangelho. Alguns desses provavelmente sofreram até mesmo o martírio, quando foram postos ao teste final.

OPOSIÇÃO PROVIDENCIALMENTE ANULADA PARA RESULTAR EM BÊNÇÃOS

Achamos que há boas razões para acreditar que um número considerável de pessoas que se consagraram ainda estão em Babilônia. Não temos como saber, no entanto. Estamos perto da Batalha do Armagedom, perto do tempo da derrota de Babilônia; e estamos procurando divulgar a Mensagem da Verdade o mais amplamente possível, para que essa classe possa ouvir e sair, mesmo que seja tarde demais para ganhar o grande prêmio. Que são um número considerável é indicado no capítulo 19 de Apocalipse, onde diz que, quando Babilônia cair, o número dos libertados naquele momento será uma grande multidão, e que as vozes desses serão “como a voz de muitas águas”.

Acreditamos que, no tempo presente, há um grande número de pessoas nas Igrejas nominais cujas mentes estão gradualmente despertando para a Verdade. Em vários púlpitos, onde a Verdade encontra oposição, muitas coisas do Evangelho do Reino estão sendo proclamadas; e isso terá o efeito de despertar e informar alguns dessa classe. Mesmo que aqueles proclamando essas verdades o façam com rancor e inveja, ainda assim a Mensagem do Evangelho é pregada. (Filipenses 1:15-18) Muitos, assim, começam a prestar atenção a certas verdades que nunca lhes poderíamos transmitir — muitos dos quais não conseguiríamos alcançar.

Por exemplo, alguns desses ministros mencionam que cremos que a Igreja nominal é a Babilônia; Outros dizem que cremos que nosso Senhor está agora presente, em Seu Segundo Advento, e está reunindo Suas jóias (Malaquias 3:17); ainda outros dizem que acreditamos que o fim dos Tempos dos Gentios virá em outubro de 1914. Todas essas verdades estão sendo declaradas de forma caluniosa. Mas não devemos nos surpreender se o Senhor, providencialmente anular muitas dessas coisas para o bem de Seu povo.

Não muito tempo atrás, para nossa grande surpresa, um irmão nos disse que seu primeiro contato com a Verdade foi por meio de um tratado de Morehead. Outro homem ouviu seu pregador dizer que éramos o Anti-Cristo. Ele queria saber como era o Anti-Cristo, e então veio nos ver e ouvir, e daí recebeu a Verdade, apenas por causa dessas declarações caluniosas. Portanto, temos que ser um alvo, para que a Mensagem do Senhor possa ser proclamada. Não devemos nos surpreender com tais coisas, como se algo estranho estivesse acontecendo conosco ao termos sido feitos espetáculo com vitupérios e ardentes tribulações. Regozijemo-nos que somos considerados dignos de sofrer com Cristo, para que, quando Sua glória for revelada, também nos alegremos com extrema alegria. — 1 Pedro 4:12-14; Hebreus 10:32, 33

ZWT, 1° de março de 1914 (R5410 : página 67)

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Comentários:

* Sobre 1881, nosso Irmão David Rice, erudito em cronologia dos Estudantes da Bíblia, teceu o seguinte comentário:

“Da mesma forma, a data de 1881 foi produzida pela simetria dos paralelos, mas qual é sua importância? Originalmente, supunha-se que essa data marcaria a conclusão da Igreja. (R175-8, R177-2, R180B-1) “Até nascer o pequeno rebanho, evento esperado em 1881.” (R183B-3) Essas expectativas foram esclarecidas em maio daquele ano, num artigo intitulado “O Ano de 1881”, que conclui com as palavras: “Este ano … a porta para a chamada celestial … [será] fechada para sempre.” (R224-7) No Volume 3 isso é adicionalmente refinado, passando a significar o fim do chamado geral, enquanto que o fechamento da “porta” aconteceria mais tarde. (C212)

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