Vigiai, pois, orando sempre (Parte 1)

Durante o período que antecede o Memorial, dedicamos atenção e esforço extras para refletir sobre o amor de Deus por nós e o compromisso de Jesus em morrer como resgate. Parte desse esforço inclui estudos bíblicos temáticos sobre as ações e ensinamentos de Jesus em sua última semana de vida. Anelamos e buscamos uma conexão mais próxima e íntima com nosso Pai Celestial e com o Senhor Jesus. Quando voltamos nossa atenção para outros assuntos, a sensação de união e proximidade pode se esvair, e então desejamos ardentemente seu retorno.

Nosso Pai nos céus deseja que O conheçamos mais profundamente do que antes. A oração é essencial; é um diálogo com Deus com o propósito de conhecê-Lo melhor. Ela nos ajuda a alcançar e manter a união e a proximidade que buscamos. Como em qualquer conversa, esperar por uma resposta e ouvi-la é fundamental. A espera e o tempo são recursos que Deus usa para nos ensinar que Ele pode — e de fato — responde nossas orações sem nossa interferência ou manipulação.

Devemos considerar a oração não respondida como um convite para comunhão e diálogo com Ele em um nível mais profundo. À medida que aprendemos a aquiescer e submeter nossa vontade à d’Ele, descobrimos que os momentos aparentemente infrutíferos (quando pensamos que Deus não está ouvindo) nos preparam para um tempo de colheita. Superar essas experiências frequentemente resulta em surtos de crescimento espiritual, percepções mais profundas, maior apreço ou desenvolvimento de caráter. Tudo isso nos encoraja a servi-Lo e amá-Lo ainda mais. E nos torna mais sensíveis ao tom e à ressonância da Sua voz, resultando numa disposição maior de obedecer.

A oração transforma coisas. Às vezes, ela muda as circunstâncias de nossa vida. Outras vezes, muda a forma como enxergamos essas circunstâncias. E, por vezes, muda nossa atitude diante delas. A oração é uma tábua de salvação da qual extraímos esperança, coragem, paz, entendimento e bênçãos.

Sugerimos dez orações distintas para considerarmos como nossas. Elas não estão explicitamente na Bíblia, mas baseiam-se em seus ensinamentos e princípios.

(1) Que sejamos fiéis por toda a vida  

“Fiel” significa “ser leal a uma causa, cumprir uma promessa, voto ou compromisso”. Ser fiel é aproveitar as decisões, atividades e oportunidades cotidianas que a vida nos apresenta e consagrá-las a Cristo. Também significa crer na Palavra e nas promessas de Deus tão profundamente que se tornem convicções. Tais convicções se tornam realidade, evidenciadas por decisões baseadas na Palavra de Deus, e não em circunstâncias naturais.

Considere a oferta da viúva. (Marcos 12:42-44) A inclinação natural seria guardar aquelas moedas para seu sustento e de sua família. Seria um uso justo, e Deus entenderia tal decisão. No entanto, ela confiou nas promessas do Antigo Testamento e estava tão convicta delas que agiu, mesmo a um alto custo pessoal. Salmo 55:22 diz: “Lança teu fardo sobre o SENHOR [Jeová], e ele te sustentará, jamais permitirá que o justo sofra ou seja abalado.”  

Como saber se seremos fiéis por toda a vida? Sabemos que é possível, pois 2 Pedro 1:10 afirma que, se praticarmos essas coisas, nunca cairemos: “Portanto, irmãos, procurai diligentemente firmar o vosso chamado e eleição; porque, se fizerdes essas coisas, jamais caireis.”

A que coisas Pedro se refere? Os versículos 5-8 explicam: “E além disto, com toda a diligência, acrescentai virtude à vossa fé, e à virtude o conhecimento, e ao conhecimento a temperança, e à temperança a paciência, e à paciência a piedade, e à piedade a gentileza fraternal, e à gentileza fraternal a caridade. Porque se em vós houver estas coisas, e com abundância, eles não vos deixarão estéreis e nem infrutíferos no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.”

Sabemos que podemos ser fiéis se desenvolvermos nossa fé. O apóstolo Paulo escreveu aos irmãos romanos por volta de 57 d.C., dez anos antes de sua morte. Romanos foi escrito por um homem experiente e espiritual, que podia declarar com confiança provada que nada o abalaria em seu amor, devoção e serviço a Deus. Devemos estar próximos — ou ser capazes — de expressar as mesmas convicções do apóstolo em Romanos 8:16-17: “O mesmo Espírito dá testemunho com o nosso espírito, de que somos filhos de Deus. E se filhos, então herdeiros, herdeiros de Deus e herdeiros com Cristo; se então nós sofremos com ele, que também nós sejamos glorificados juntos.”

Faça essa oração porque você deseja estar com Ele, vê-Lo como Ele é. Ore porque você sabe quem é e o que é: um filho espiritual com mente e corpo imperfeitos. Precisamos da ajuda d’Ele em nossa vida para sermos fiéis.

(2) Que Tenhamos um amplo campo de influência para a justiça e a verdade

“Somos embaixadores… em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio… reconciliai-vos com Deus” — 2 Coríntios 5:20, ARA

Devemos deixar nossa luz brilhar. “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” — Mateus 5:16

Devemos pregar a palavra. “Proclama a mensagem, insiste em tempo oportuno e fora de tempo, convence, repreende, exorta, com toda paciência e doutrina” — 2 Timóteo 4:2, Weymouth

Devemos explicar a razão de nossa esperança quando surgir a oportunidade. “Estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” — 1 Pedro 3:15

Já notamos que certos crentes são como brisa fresca, chuvas de primavera ou um copo de água fria? Sentimo-nos renovados e atraídos a eles, como mariposa à luz. Isso provém de seu amor por Cristo. A atração que sentimos é a própria manifestação de Jesus em suas vidas. Falam d’Ele, do que aprenderam d’Ele, do que Ele fez por eles, do que fará ou está fazendo. Tudo gira em torno d’Ele.

Esse é o espírito dessa oração — ser uma luz que torna as coisas mais fáceis aos outros, que atrai não a si mesmo, mas à luz que porta. Essa oração busca influenciar outros para a justiça. Não se trata de si, de glória, fama ou reconhecimento. A influência que Noemi exerceu sobre Rute, ou que João Batista exerceu sobre Israel, são exemplos desse tipo de influência. — Rute 1:16–17; Mateus 3:5–6

Paulo nos diz que Deus escolhe os fracos, os simples e os desprezados, para que a transformação operada por Ele seja atribuída exclusivamente à Sua glória. (1 Coríntios 1:26–29) Somos os fracos e os sem prestígio. Essa fraqueza clama a Deus para que sejamos eficazes como Seus servos.

(3) Que promovamos a Palavra de Deus e o Reino de Cristo

Essa oração trata da proclamação da mensagem do plano de Deus — seu propósito e seus feitos. Seu objetivo é levar um mundo cheio de temor a repousar no conhecimento de que Deus é soberano, cuida de Sua criação, controla os eventos do mundo e de nossas vidas, e que Cristo é central na restauração da humanidade.

Essa oração clama por oportunidades de testemunho público, por sabedoria para saber o que dizer e coragem para o dizer — transmitindo esperança, paz, consolo e alívio. Desejamos estar mental, física e espiritualmente no lugar certo para isso.

“O Espírito do SENHOR Deus [Jeová] está sobre mim, porque o SENHOR [Jeová] me ungiu para pregar boas novas aos quebrantados; enviou-me para curar os de coração quebrantado, proclamar libertação aos cativos e abertura de prisão aos algemados; para proclamar o ano aceitável do SENHOR [Jeová] e o dia da vingança do nosso Deus; para consolar todos os que choram; e pôr sobre os que em Sião estão de luto uma coroa em vez de cinzas, óleo de alegria em vez de pranto, manto de louvor em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem carvalhos de justiça, plantação do SENHOR [Jeová], para que Ele seja glorificado” — Isaías 61:1–3, ARA

Essa passagem se aplica a Jesus, mas também podemos reivindicá-la. Fomos igualmente ungidos com o Espírito Santo, para anunciar boas novas aos aflitos, quebrantados, cativos e enlutados. Essa oração é sobre usar a unção que recebemos para falar das verdades bíblicas que conhecemos, a fim de edificar outros.

Quando o apóstolo Paulo apresentou sua defesa perante o rei Agripa, declarou: “Até o dia de hoje tenho obtido o socorro que vem de Deus; assim permaneço firme, testificando tanto a pequenos como a grandes, nada dizendo senão o que os profetas e Moisés disseram que havia de acontecer: que o Cristo havia de padecer e, sendo o primeiro a ressuscitar dentre os mortos, havia de anunciar luz tanto ao povo como aos gentios.” (Atos 26:22–23, ARA) Essa oração é sobre promover a Palavra de Deus e o Reino de Cristo.

(4) Que sejamos sempre corajosos ao declarar Sua Palavra e Suas Verdades

Em contraste com a oração anterior, essa é mais pessoal e prática, e diz respeito a manter-se firme na verdade. Existem diversas maneiras pelas quais a resposta a essa oração pode se manifestar:

● Falar a verdade com compaixão para substituir o erro — com mansidão, humildade, mas fundamentado nas Escrituras — oferecendo encorajamento, com correção.

● Compartilhar o que as Escrituras dizem com os que perguntam. “Estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” — 1 Pedro 3:15, ARA

● Repreender o pecado e a injustiça de maneira apropriada. Podemos nos perguntar se teríamos a convicção de João Batista ao repreender Herodes. Mas podemos saber se temos o caráter para que chefes, colegas de trabalho, familiares e amigos saibam onde nos posicionamos quanto ao certo e ao errado. Falamos contra a imoralidade, a linguagem profana ou comentários depreciativos e racistas? Há um tempo de calar e um tempo de falar. Será que temos sempre escolhido o tempo de calar?

● Compartilhar a bondade do Senhor em nossa vida, e como outros também podem desfrutar dessa bondade. Meus amigos fora da fé sabem quem sou, a quem amo e em quem deposito minha esperança? Estou passando pela vida semeando justiça, verdade, consolo, paz, compaixão, simpatia, empatia, encorajamento e graça? Ou estou invisível, vivendo sem deixar rastro?

● Comunicar a fidelidade de Deus aos outros. Todos enfrentamos dor e perda. Ainda que não possamos explicar os motivos dessas experiências, podemos apontar para nosso Pai Celestial, que compreende e tem compaixão. Quando lembramos aos outros das promessas da Palavra de Deus relacionadas às suas vivências, o próprio Deus usa nossas palavras e esforços para reanimá-los. Ao compartilhar como Deus tem lidado conosco, também os encorajamos em suas jornadas.

● Viver nossa fé. Sou transparente? As pessoas veem o Mestre em mim, ou veem apenas a mim? Confio em Deus ou em minhas próprias habilidades? No Evangelho de João, Pedro estava temeroso. No livro de Atos, ele é intrépido. Quando Pedro se firmou em seu relacionamento com Jesus, tornou-se totalmente comprometido com a causa da verdade. Também temos um relacionamento de filiação. Assim como Pedro, devemos estar seguros de nossa comunhão com Jesus. Isso nos capacita a declarar abertamente as verdades de Deus.

(5) Que sejamos misericordiosos, compassivos e prontos a perdoar

Em Mateus 9:36, nosso Senhor Jesus compadeceu-se das ovelhas aflitas de Israel. Isso nos dá profunda admiração por sua bondade, amor e misericórdia. “Praticai a bondade e a compaixão cada um para com seu irmão.” — Zacarias 7:9, NASB

A malícia e a ira encolhem a alma humana. A misericórdia, a compaixão e o perdão alargam o coração de quem os estende ao próximo. Se não oferecermos isso aos outros, poderemos esperar recebê-lo de nosso Pai celestial? “Deixa… diante do altar a tua oferta… reconcilia-te primeiro com teu irmão e, então, vem e apresenta a tua oferta.” — Mateus 5:24; 6:12, 14

Deus, “segundo a sua grande misericórdia”, nos deu viva esperança em Cristo. (1 Pedro 1:3) Com esse mesmo espírito, devemos exercer misericórdia para com os outros. “Sede bondosos uns para com os outros, compassivos, perdoando-vos uns aos outros.” — Efésios 4:32

Esse princípio também se encontra em Mateus 18:21–35, na Parábola do Servo Sem Compaixão. Aquele servo, perdoado de uma dívida de dez mil talentos, recusou-se a perdoar o próximo, que lhe devia cem denários. E foi lançado na prisão até quitar sua enorme dívida. “Assim também vos fará meu Pai celestial, se de coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas.” Se desejamos a bondade de Deus, devemos estendê-la aos outros. Por isso oramos para sermos misericordiosos, compassivos e prontos a perdoar.