O caminho divino para a justificação

A RECONCILIAÇÃO entre Deus e o homem, pela qual nosso Senhor Jesus Cristo se tornou a Justificação para todos os que Nele creem, já foi objeto de nossa meditação. Contudo, aprofundemos o significado do termo “justificação”, frequentemente compreendido de modo imperfeito pelos filhos de Deus. A justificação envolve primordialmente três aspectos: primeiro, a existência de um padrão divino de justiça e retidão; segundo, o reconhecimento de que algo ou alguém não se conforma a esse padrão, falhando em cumprir seus requisitos; terceiro, o processo pelo qual aquele que falhou é ajustado e conformado a esse padrão justo.

Podemos vislumbrar isso como uma balança: de um lado, o peso da Justiça divina; do outro, a obediência humana, que deveria igualar-se à Justiça para haver equilíbrio. Porém, em toda a humanidade, há deficiência. Adão, criado perfeito e em harmonia com Deus, perdeu essa condição justa pela desobediência, incorrendo na condenação divina. Seus descendentes, “moldados na iniquidade e concebidos em pecado”, nasceram ainda mais distantes do padrão exigido pela Justiça divina. Diante disso, é inútil para qualquer descendente de Adão buscar aprovação divina por méritos próprios. Se o homem perfeito caiu por desobedecer, quanto menos nós, imperfeitos e decaídos, poderíamos satisfazer às demandas da Justiça ou nos justificar perante Deus. Verdadeiramente, “todos pecaram e estão privados da glória de Deus”, pois a raça humana falhou representativamente em Adão.

Se, como raça, somos todos injustos e indignos, e se nenhuma obra humana pode satisfazer à Justiça, concluímos com o salmista que “nenhum deles pode de modo algum redimir a seu irmão”. Ninguém possui mérito excedente para cobrir a falta alheia, pois nem mesmo possui o suficiente para si.

Surge, então, a questão: Poderá Deus aceitar os injustos, os caídos, aqueles sob condenação? Sim, Ele revelou um caminho pelo qual pode permanecer justo e, ao mesmo tempo, justificar aquele que tem fé em Jesus. Deus designou Cristo como Mediador, Aquele que comprou o mundo com Seu próprio sangue precioso, um sacrifício perfeito.

No tempo determinado, durante a Era Milenar, Cristo reinará sobre a Terra, abençoando todas as famílias com o conhecimento da verdade e a oportunidade de restauração à imagem de Deus, perdida em Adão. Essa obra futura será a justificação real, tornando os homens efetivamente perfeitos, física, mental e moralmente – uma obra distinta da nossa justificação presente, que é imputada pela fé à Igreja nesta Era Evangélica. Somos gratos por essa promessa de justificação efetiva, que conduzirá os dispostos e obedientes da imperfeição à perfeição.

Consideremos, porém, agora, a Nova Criação, a classe especial chamada por Deus à natureza divina. Estes também necessitam de justificação, pois por natureza são “filhos da ira, como os outros também”. Se o mundo precisa ser justificado para que Deus possa restaurar a comunhão, como poderia Ele aceitar a Igreja como coerdeira com Seu Filho sem que ela fosse primeiramente justificada? A justificação é, pois, um pré-requisito para nos tornarmos Novas Criaturas. Mas como se efetua essa justificação para nós? Não por uma restauração imediata à perfeição real, mas por um meio distinto que as Escrituras chamam “justificação pela fé”.

Aqueles que ouvem a mensagem da graça, confessam sua condição pecaminosa, creem em Cristo, arrependem-se e se entregam a Ele, são considerados justos por Deus. Suas transgressões são cobertas pelo manto do mérito de Cristo. Não é uma justiça real inerente, mas uma justiça imputada, creditada pela fé. Esta justificação pela fé permanece válida enquanto a fé e a obediência, sustentadas pelo esforço em fazer a vontade do Senhor, perseverarem. Ela cobre não somente a condenação adâmica original, mas também as fraquezas e imperfeições involuntárias que, devido à fragilidade da carne herdada, ainda maculam nossas palavras, pensamentos e ações.

Assim, “agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”. Este manto da justiça de Cristo, nossa justificação imputada, nos acompanha ao longo de toda a nossa peregrinação terrena, cobrindo nossas faltas involuntárias até que nossa provação termine e sejamos aceitos como vencedores.

Somente na Primeira Ressurreição, quando formos transformados na gloriosa imagem de nosso Senhor, alcançaremos a perfeição real. O que é semeado em corrupção, desonra e fraqueza, ressuscitará em incorrupção, glória e poder. Então, feitos perfeitamente justos na natureza divina, não mais necessitaremos da justiça imputada, pois possuiremos a justiça inerente à nova e gloriosa condição, um plano superior à perfeição humana que será restaurada ao mundo.