O poder da língua

“A morte e a vida estão no poder da língua.” — Provérbios 18:21
“PRATA ESCOLHIDA é a língua do justo; … Os lábios do justo alimentam muitos.” “A língua benigna é árvore de vida, mas a perversidade nela deprime o espírito.” (Provérbios 10:20, 21; 15:4) “Se alguém não tropeça no falar, tal homem é perfeito, sendo também capaz de dominar todo o seu corpo. Quando colocamos freios na boca dos cavalos para que eles nos obedeçam, podemos controlar o animal todo. Tomem também como exemplo os navios; embora sejam tão grandes e impelidos por fortes ventos, são dirigidos por um leme muito pequeno, conforme a vontade do piloto. Semelhantemente, a língua é um pequeno órgão do corpo, mas se vangloria de grandes coisas. Vejam como um grande bosque é incendiado por uma simples fagulha. Assim também, a língua é um fogo; é um mundo de iniquidade. Colocada entre os membros do nosso corpo, contamina a pessoa por inteiro, incendeia todo o curso de sua vida, … Toda espécie de animais, aves, répteis e criaturas do mar doma-se e é domada pela espécie humana; a língua, porém, ninguém consegue domar. É um mal incontrolável, cheio de veneno mortífero. Com a língua bendizemos ao Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. Da mesma boca procedem bênção e maldição. Meus irmãos, não pode ser assim!” — Tiago 3:2-10

Esses textos e outros enfatizam que a língua tem uma tremenda influência. Jamais será um exagero afirmar que as palavras têm poder, quer para o bem, quer para o mal. Quase todas as atividades da raça humana são iniciadas e concluídas por meio de palavras, de uma forma ou de outra. Além disso, por meio das palavras escritas na Bíblia, Deus nos revelou seu grande plano das eras.

Foi com palavras que Satanás enganou os homens a respeito do caráter de Deus. As pessoas que aprenderam alguma coisa sobre o comprimento, a largura, a altura e a profundidade do caráter de Deus têm se esforçado para demonstrar sua devoção a ele por meio de palavras. Usando palavras, Satanás tem deturpado as grandes verdades fundamentais ensinadas nas Escrituras Sagradas. É também por meio de palavras que os que se dedicaram a conhecer e a fazer a vontade de Deus têm se esforçado para esclarecer outros sobre as glórias do reino vindouro, quando a vontade de Deus será feita tão plenamente na Terra como no céu. — Mat. 6:10

De acordo com as páginas da História, a língua enviou muitas pessoas à morte, despertando nos homens as paixões mais violentas da humanidade. Por outro lado, a língua também moveu os homens a alcançarem os sentimentos mais elevados e nobres possíveis. As palavras têm sido usadas para encorajar outros a se consagrarem a Deus para servi-lo, com o desejo de continuar a conhecer e fazer sua vontade para sempre.

A LÍNGUA NÃO PODE SER TOTALMENTE DOMADA


Como filhos de Deus, devemos constantemente orar e estar diariamente determinados a fazer com que nossas palavras sejam uma bênção para todos e uma influência para o bem. No entanto, como citado anteriormente, o apóstolo Tiago diz que o homem sempre cometerá erros com a língua, a não ser que seja perfeito. Visto que nenhum de nós somos perfeitos, é importante estarmos atentos às nossas próprias limitações no que diz respeito ao uso dessa parte mais influente de nosso ser.

Tiago também diz que podemos colocar um leme em um navio e guiá-lo, ou colocar um freio na boca de um cavalo e controlar esse animal forte. Para ilustrar isso em nossos dias, o volante de um automóvel faz com que seja fácil, por exemplo, direcioná-lo para uma reunião da eclésia ou para uma convenção. Assim, quer esteja navegando uma embarcação, controlando um cavalo ou dirigindo um carro, o homem faz essas quase sem dificuldades. No entanto, quando se trata de controlar a língua, a coisa é bem diferente. “Mas nenhum homem pode domar a língua”, afirma Tiago categoricamente.

É verdade que não podemos controlar a língua. Mas isso não significa que não adianta tentarmos fazer isso. Pelo contrário, o argumento de Tiago é que a língua pode ser um servo maravilhoso, mas que apenas expressa, para o bem ou para o mal, as coisas baseadas nos pensamentos de seu mestre. Assim, somos os mestres de nossas línguas, ainda que, por causa da imperfeição, não possamos controlá-la completamente e direcioná-la para o bem.

“AQUILO DE QUE O CORAÇÃO ESTÁ CHEIO”


Jesus disse: “A boca fala aquilo de que o coração está cheio.” (Mat. 12:34; Luc. 6:45, KJA) Isso não se aplica literalmente em todos os casos, porque cometemos certos deslizes com a língua que certamente não vêm das profundezas de nosso coração. No entanto, na maioria das vezes, falamos sobre as coisas com as quais nossos corações estão cheios — coisas que são mais importantes em nossos pensamentos. Portanto, é apropriado dizer que nossas palavras indicam o que está em nossas mentes, e, durante um período, nossa condição de coração.

Quando éramos crianças, um médico talvez nos tenha dito: “Deixe-me ver sua língua.” Ao analisar nossa língua, ele poderia descobrir certas coisas sobre nossa condição geral de saúde. Como isso é semelhante no que diz respeito a coisas espirituais! Nossa língua pode indicar se nosso coração e saúde espiritual geral estão bons ou deficientes. Como filhos do Senhor queremos ser espiritualmente saudáveis. A Bíblia diz: “Guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.” (Prov. 4:23) É vital mantermos o controle e o uso apropriado de nossa língua, e aqui somos advertidos de que temos um trabalho a fazer nesse respeito, mantendo diligentemente nosso coração numa condição adequada.

A PALAVRA DE DEUS PROSPERA


De acordo com Isaías 55:11, Deus envia a sua Palavra para “fazer o que” lhe agrada, a qual “prosperará” em nós se permitirmos que ela regule nossos pensamentos e a vida. A Palavra que ‘sai da sua boca’ são as Escrituras Sagradas. Paulo disse: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra.” (2 Tim. 3:16, 17, NVI) A Palavra de Deus, no entanto, pode “prosperar” e tornar-nos “preparados”, somente se guardarmos nosso corações com toda a diligência. Somente assim poderemos usar este servo que o Senhor nos deu — sua preciosa Palavra — “para toda boa obra”

A Palavra de Deus que prosperará em nós se permitirmos que nos controle, tem tanto uma letra, quanto um espírito. É verdade que alguns conhecem a letra das Escrituras, e devemos agradecer ao Senhor por conhecermos um pouco da letra da Palavra. No entanto, é muito mais importante que conheçamos tanto o espírito como a letra da Palavra de Deus. Devemos servir a Deus “em novidade do espírito”, e não meramente “na velhice da letra”. — Rom. 7: 6

CHEIOS DO ESPÍRITO


Paulo também nos adverte: “Enchei-vos do Espírito.” (Efé. 5:18) É pela habitação do Espírito Santo de Deus que deixamos que seus pensamentos encham nossos corações para que possamos guardá-los com toda a diligência. Ao fazê-lo, a fonte de onde brotam nossas palavras será doce. Ao continuar discorrendo sobre a língua, Tiago escreve adicionalmente: “Porventura deita alguma fonte de um mesmo manancial água doce e água amargosa? Meus irmãos, pode também a figueira produzir azeitonas, ou a videira figos? Assim tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce. Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria.” — Tiago 3:11-13

Se nosso coração estiver cheio do Espírito; se estiver transbordando com o amor de Deus; se valoriza o fato de que o Senhor nos chamou das trevas para sua maravilhosa luz; se está cheio de apreço pelo chamado celestial; se estiver cheio de gratidão pelo amor terno de Deus e o cuidado manifestado nas providências de nossa vida — então expressaremos tais motivações do coração, porque “da abundância do coração a boca fala”.

Por outro lado, se não fizermos isso, nosso coração poderá em breve se tornar corrupto e egoísta. Se não estiver cheio do Espírito, será preenchido com outra coisa. Poderá até estar cheio de coisas que não são amorosas — que emanam do espírito da nossa carne caída ou do mundo. Se nosso coração está cheio dessas outras coisas, a língua também dará vazão a tais pensamentos.

UM SERVO


A língua é um servo. A questão é: a quem está servindo? Se relaxarmos e deixarmos de guardar o coração com toda a diligência, é possível que sirva ao mundo, à carne ou mesmo ao nosso grande Adversário, o Diabo. A língua também pode servir à Nova Criatura. (2 Cor. 5:17) A Nova Criatura deseja agradar a Deus, e conhecer sua vontade para que possa melhor servi-lo. Quão importante é, então, que nossa língua seja um servo da Nova Criatura.

As Escrituras também nos advertem: “Põe vigia, Jeová, à minha boca, Guarda as portas dos meus lábios.” (Salmo 141:3, TB) O salmista aqui sugere uma vigilância antes que se fale. Vigiarmos as palavras antes que cheguem aos nossos lábios certamente nos ajudará em nossos esforços para usar a língua como um servo apropriado.

UMA BATALHA PARA TODA A VIDA


A língua muitas vezes demonstra que somos imperfeitos. Na verdade, a mente, que em muitos aspectos influencia nossas palavras, é um eterno campo de batalha. Devido à nossa condição caída, perderemos batalhas na mente de vez em quando. Tais perdas, sem dúvida, se manifestarão em palavras ou ações menos saudáveis e edificantes. Em um exemplo extremo das Escrituras, recordamos a ocasião em que “o Diabo incutira no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que deveria trair a Jesus”. (João 13:2, KJA) Satanás colocou um pensamento no coração de Judas para trair a Jesus. A mente e o coração de Judas não conseguiram lutar contra ele e, como resultado, ele sofreu grandes perdas. É importante termos em mente que se Satanás conseguiu fazer o coração de Judas pensar em cometer tal ato, ele também pode colocar pensamentos maus em nossos corações. É por isso que devemos lutar, usando toda a armadura de Deus, contra esse astuto e perigoso inimigo. — Efé. 6:11-18

Satanás tem vários métodos, e a Bíblia diz que “não ignoramos os seus ardis”. (2 Cor. 2:11) O Diabo pode incutir no coração dos irmãos o desejo de julgar uns aos outros. No início, isso parece estranho. Sabemos que o mundo não gosta de nós, e que, da mesma forma, o Diabo é nosso maior inimigo. Por outro lado, sabemos que nossos irmãos são aqueles que foram chamados das trevas para a luz. (1 Ped. 2: 9) Entendemos que nossos irmãos têm o mesmo desejo de servir ao Senhor como nós. Talvez nem todos possam servir exatamente da mesma maneira, nem terem o mesmo temperamento. No entanto, eles estão totalmente consagrados e decididos a servir a Deus, e sem dúvida, os momentos mais abençoados que temos são os que passamos em comunhão com aqueles que apreciam uma “fé igualmente preciosa”. (2 Pedro 1:1) Mesmo assim, quantas vezes Satanás nos tentou e foi bem-sucedido em nos fazer usar a língua como instrumento de crítica de nossos irmãos!

Sabemos que Satanás tentou vencer a batalha com nosso Senhor Jesus quando o tentou no deserto. (Mateus 4:1-11) A vitória da parte do Senhor foi obtida simplesmente dizendo: “Está escrito” — de forma rápida, sucinta e direto ao ponto. Assim, quando tais pensamentos surgirem em nossa mente, especialmente quando nutrimos críticas a nossos irmãos, devemos rejeitá-los como Jesus fez, com um “está escrito”. “Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós.” — Mat. 7:1, 2

PROCURE O BEM


É interessante pensar em algumas das coisas que o homem acha muito difícil fazer. Se você olhar com uma lupa para um lápis que acabou de ser apontado, ele ainda vai parecer sem ponta. Uma agulha, a olho nu, parece ser extremamente pontiaguda, mas novamente, através de uma lupa ela não parece ser tão aguçada assim. Em contraste, pense nos espinhos de uma roseira. Mesmo sob ampliação, é notável como parecem afiados e quão precisos são em sua formação. A diferença, é claro, está no fabricante. Enquanto Deus pode formar e criar todas as coisas perfeitamente, não podemos nem mesmo colocar uma ponta perfeita em uma agulha.

Mencionamos os exemplos acima para mostrar que, se estivermos procurando falhas e imperfeições uns nos outros, certamente as encontraremos, assim como uma lupa mostrará as irregularidades e as bordas disformes da ponta de um lápis ou de uma agulha. A Bíblia diz: “O perverso de coração jamais achará o bem.” (Pro. 17:20) Embora não seja um texto bíblico, alguém também disse com sabedoria: “Você nunca encontrará o que é reto se estiver procurando o que é torto”. Se nossos corações forem impedidos de ver as boas, puras e bonitas qualidades de caráter de nossos irmãos consagrados, estaremos constantemente vulneráveis ??às sugestões malignas do Adversário. Mais importante ainda, perderemos a batalha se não arrancarmos do nosso coração aquelas coisas que não deveríamos permitir que morassem ali.

As Escrituras nos dizem que “o caminho dos justos é como a luz da aurora, que vai aumentando até chegar a pleno dia”. (Pro. 4:18, RVP-2009) Devemos nos alegrar com o privilégio que temos de conversar com nossos irmãos sobre a luz da verdade presente, e assim crescer na graça e no conhecimento. Ao fazê-lo, no entanto, devemos sempre olhar para nós e o próximo como Novas Criaturas. Se encararmos uns aos outros dessa maneira, como o Senhor o faz, não veremos os caminho humano imperfeito, cheio de tropeços, no qual cada um de nós nasceu.

AÇÕES VERSUS PALAVRAS


Se Satanás colocasse em nossa mente que devíamos roubar nosso irmão e sucumbíssemos à tentação, isso não o prejudicaria gravemente, pois, o que quer que tivéssemos roubado, poderia ser substituído. Se o Diabo nos induzisse a queimar a casa de alguém, ela poderia ser reparada ou reconstruída. No entanto, quando se trata de boatos, rumores, intrigas e fofocas — que são tudo palavras — os resultados malignos seriam muito difíceis de corrigir ou apagar da mente. Se fizermos coisas assim, é uma indicação alarmante de que estamos perdendo a batalha que ocorre na mente. “Aquele que semeia discórdias entre irmãos”, diz a Bíblia, “o SENHOR odeia”. — Pro. 6:16,19, BAM

Embora possa parecer que mais danos poderiam ser causados por más ações do que por palavras maléficas, não é assim. Um golpe pode quebrar ou ferir a carne, ao passo que uma palavra pode partir ou machucar o coração. Do jeito que fomos feitos, as feridas na carne se curam facilmente, enquanto que as feridas no coração costumam sangrar por um longo tempo, e muitas vezes deixam uma cicatriz. Devemos pensar seriamente nessas coisas.

UMA BENÇÃO


É uma bênção que tenhamos a capacidade de conversar com os outros, especialmente com nossos irmãos. O Senhor é sábio, no entanto, ao nos dizer sobre o que não devemos falar, e também sobre o que podemos falar. “Não andarás como mexeriqueiro entre o teu povo, nem conspirarás contra o sangue do teu próximo: eu sou Jeová.” “O homem perverso espalha contendas, E o murmurador separa amigos íntimos.” — Lev.19:16; Pro. 16:28, TB

Em contraste, lemos: “Também a minha língua celebrará a tua justiça continuamente; Porque estão envergonhados, porque estão confundidos os que buscam o meu mal.” “Cantai-lhe, cantai-lhe louvores; Meditai em todas as suas maravilhas.” “Graças te darão, Jeová, todas as tuas obras; E os teus santos te bendirão. Falarão da glória do teu reino, E confessarão o teu poder, Para darem a conhecer aos filhos dos homens os seus poderosos feitos, E a glória da majestade do seu reino. O teu reino é o de todos os séculos, E o teu domínio subsiste por todas as gerações.” — Sal. 71:24; 105:2; 145:10-13

É assim que devemos usar nossa língua. Para isso ela foi dedicada, e é dessa maneira que temos o privilégio de utilizá-la. O Senhor nos dotou da faculdade de falar. É um privilégio maravilhoso usar essa faculdade em harmonia com sua vontade.

“ÚTIL PARA A EDIFICAÇÃO”


O Pai Celestial nos salvou pela graça através da fé, e nos deu seu Espírito Santo. (Efé. 2:8,13,18) Ele, que nos tem impedido de cair, pediu que nos amássemos uns aos outros e que manifestássemos esse amor em nossos tratos mútuos. Portanto, lembremo-nos do que Tiago estava tentando nos dizer — que a única maneira segura de controlar a língua é manter nossos corações puros e cheios do desejo de falar sobre os poderosos atos de Deus.

Nossa conversa será, portanto, “útil para a edificação”. Nossas palavras ‘comunicarão graça aos que a ouvem’. (Efé. 4:29) Que cada um, portanto, guarde o coração com toda a diligência, sabendo que de dentro dele fluirão as palavras de nossa boca. Citando novamente as palavras de nosso texto introdutório: “A morte e a vida estão no poder da língua”. Que Deus nos dê a língua de um consagrado, para que saibamos falar palavras de encorajamento e consolo. “Saber dar uma resposta é uma alegria; como é boa a palavra certa na hora certa!” “Maçã de ouro em bandeja de prata é palavra dita na hora oportuna.” — Pro. 15:23 NTLH; 25:11, PAST